Dentro de uma mesma sala de aula, é corriqueiro que os professores enfrentem muitos desafios por terem estudantes com conhecimentos e interesses muito diversos. Essa é uma questão que os docentes percebem na prática e, na medida do possível, de acordo com a abordagem pedagógica da escola, vão tentando contornar.
William Bender, doutor em educação e cujo foco está em estratégias de ensino prático, foi um desses professores – e pesquisadores - que não se contentou com os métodos que tinha em mãos e encontrou, depois de muita pesquisa, a aprendizagem baseada em projetos, ou PBL (project-based learning), que lhe deu subsídios para lidar com a diversidade.
Os projetos são parte de uma estratégia de educação de grande impacto; servem para alunos de todos os espectros de habilidades: para quem tem dificuldade, para quem tem desempenho muito bom, e tudo que está no meio do caminho.
“Ela pode ser realmente revolucionária”, disse Bender durante o 1º Congresso Brasileiro de Metodologias Ativas, promovida pelo NAP/USP (Núcleo de Pesquisas em Novas Arquiteturas Pedagógicas da Universidade de São Paulo), da PANPBL (Association of Problem-Based Learning and Active Learning Methodologies), e do Instituto iungo.
O project-based learnig é, de forma geral, trazer para o aluno um problema da vida real e lhe ensinar conteúdos acadêmicos, de uma forma colaborativa e dirigida pelos próprios alunos. O objetivo é encontrar alguma solução para a questão inicial.
Ou seja, a aprendizagem baseada em projetos é definida pela utilização de projetos autênticos e realistas, baseados em uma questão, tarefa ou problema altamente motivador e envolvente, para ensinar conteúdos acadêmicos aos alunos no contexto do trabalho cooperativo para a resolução de problemas.
O objetivo é que o grupo seja capaz de criar um possível projeto para construir, investigar ou explicar um problema e a motivação dos grupos é a grande razão do sucesso da metodologia.
Como funciona a aprendizagem baseada em projetos
O professor começa as atividades apresentando o tema para os alunos, sempre a partir de situações reais. Ele pode se utilizar de filmes, reportagens, etc.
Posteriormente, ele trabalha ferramentas para organização de ideias, como mapas mentais, design thinking e brainstorm, formalizando e sistematizando os possíveis projetos. Esses podem ser apresentados também em vídeos, mas não só.
Uma parte bastante interessante é que os estudantes, normalmente em grupos, vão escolher os projetos de que desejam participar, ou seja, vão trabalhar em projetos que lhes despertam interesse.
Divididos os temas e trabalhos, são determinados as metas e o cronograma das atividades; divididas as funções e papéis de cada um dos membros, sempre com orientação do professor, pois é uma metodologia construída em conjunto, os estudantes dão início aos trabalhos.
Passamos então à fase de pesquisa inicial, ou seja, à coleta de informações. Podem ocorrer entrevistas com a população local, visitas de campo, coleta de materiais, possíveis orçamentos, busca de textos e dados na internet, sempre apresentando as fontes para o professor, para que juntos avaliem a credibilidade do material.
O curso do projeto vai sendo mostrado em um roteiro para o professor e, neste momento, os estudantes começam a preparar suas apresentações e/ou protótipos. São apresentados resultados preliminares e, muito interessante, todos participam do processo de avaliação: aluno e professor.
Depois do projeto terminado, novas abordagens de pesquisas são realizadas para melhorar o produto final. A ideia aqui é corrigir os problemas que surgiram na avaliação conjunta; só depois disso é que haverá a preparação de um produto final.
Quando esse produto final é preparado, é apresentado para toda a turma e todos poderão participar da avaliação. Cada estudante vai aprender com o seu próprio projeto, mas também com o projeto do colega de turma. São atividades que podem ajudar os alunos a irem além do conteúdo e desenvolverem o pensamento criativo, a autonomia e o trabalho colaborativo. Ao final, os projetos são publicados no meio proposto.
Benefícios da PBL (project-based learning)
Dificilmente os problemas e as soluções envolvem questões de uma única natureza; portanto, a metodologia é interdisciplinar, fazendo com que os alunos usem habilidades, conhecimentos e conteúdos de diversas vertentes para que o projeto seja bem-feito e concluído com sucesso.
É centrada no aluno, motivo pelo qual o professor deixa de ser o detentor e fornecedor de conteúdo e passa a atuar como um facilitador, gerenciando o projeto. Esse movimento faz com que os estudantes conquistem mais autonomia e independência, sendo incentivados a tomar suas próprias decisões (ao escolher a melhor maneira de executar as tarefas, por exemplo).
A metodologia é baseada em pensamento crítico, que precisa ser desenvolvida pelos alunos, além de colaboração e comunicação. Eles precisam fazer escolhas durante os processos, revisar decisões não tão bem-tomadas, oferecer feedbacks e avaliar os resultados alcançados.
Também, a tendência é que os alunos desenvolvam a habilidade de resolução de problemas e possam usar essa habilidade na vida pessoal e no trabalho. A aprendizagem baseada em projetos estimula a curiosidade e a criatividade dos alunos ao lidarem com os problemas e as demandas expostas.
De fato, o método estimula competências que envolvem aptidões sociais, emocionais e mentais, como relacionamento interpessoal; boa comunicação; colaboração; equilíbrio emocional e capacidade de trabalhar sob pressão. E ainda estimula os alunos a fornecer opiniões, visão crítica, fazer contribuições e até mesmo ajudar a solucionar os conflitos quando eles surgem.
Avaliações e implementação
Ao se trabalhar com project-based learning, os professores precisam rever as formas de avaliar o desempenho dos alunos e encontrar maneiras de dar as notas necessárias. Lembrando que as avaliações padronizadas ainda não desapareceram dos sistemas de ensino e que, portanto, é interessante combinar as diferentes formas.
Para finalizar, implementar a PBL na instituição de ensino envolve basicamente uma mudança de mentalidade dos professores, cuja formação envolve majoritariamente o ensino pelo modelo convencional. Sem sua vontade e apoio não há como implementar a metodologia inovadora.
Neste ponto, existem cursos e treinamentos, o que leva algum tempo e requer recursos, já que é preciso transformar as atividades e, como falamos, repensar o modo de avaliação dos alunos. Muito importante também é assegurar o atendimento a todas as áreas do currículo nacional, de modo que os alunos fiquem preparados para realizar testes padronizados, como vestibulares, Enem, Enade etc.
No mais, o trabalho com projeto pode, sim, trazer resultados surpreendentes para a instituição de ensino. Além de despertar o interesse dos alunos, um número crescente de pesquisas acadêmicas indica que os projetos estimulam a curiosidade ativa e um nível mais elevado de raciocínio; aumenta a participação dos alunos, reduz a evasão escolar e estimula a capacidade de aprendizagem cooperativa.
Benefícios que parecem valer todos os desafios, da educação infantil ao ensino universitário.
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