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Ana Luiza Santos e Edgar Jacobs

A situação das IES segundo o Mapa do Ensino Superior de 2022

O Mapa de Ensino Superior no Brasil passou a ser produzido pelo Instituto Semesp, um centro de inteligência analítica criado pelo Semesp, a partir do ano 2020. O objetivo do projeto, segundo o prefácio do relatório desse ano, é compartilhar para pesquisadores, educadores, gestores privados e públicos, jornalistas e para a sociedade em geral informações relevantes e confiáveis que permitam sejam tomadas decisões, estabelecidas estratégias ou formuladas políticas públicas que visem o desenvolvimento da educação superior.

O material que deu sustentação para o trabalho do Semesp foram os dados do Censo da Educação referentes a 2020 e informados pelo Inep no início de 2022, bem como dados do IBGE, do ENEM, do PROUNI, CAGED e Big Data Analytics.

O interessante desta atual publicação são as informações atualizadas sobre os números oficiais que refletem o impacto da pandemia no ensino superior; também apresenta dados gerais sobre o país e específicos de cada estado, com números sobre matrículas por modalidades, ingressantes, concluintes, taxa de evasão, cursos mais procurados, entre outros.

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A pandemia e o perfil das IES

Com a necessidade da implantação de medidas emergenciais de isolamento e o consequente fechamento de escolas e universidades, as expectativas sobre uma grave crise que atingiria a educação superior após o primeiro ano da crise sanitária eram enormes. Não obstante, felizmente, houve uma queda de apenas 5,8% no total de IES no país, com decréscimo maior na rede privada (6,6%).

A propósito, no Brasil são 87,6% IES privadas, que concentram 77,5% das matrículas de graduação. Desse total, 60% possuem fins lucrativos e, na rede pública, o maior percentual de IES é de instituições estaduais, 42,4%.

A imensa maioria das IES privadas são faculdades (81,4%), ou seja, instituições com enfoque em formações específicas de uma área. Apenas 4,2% das IES da rede privada são universidades, oferecendo uma gama de cursos mais abrangentes. Já na rede pública, 36,8% das IES são classificadas como universidades.

Como é de fácil percepção, as IES de pequeno porte são a maioria no país. Na rede privada, são 80,7% das instituições e, na rede pública, 36,7%. As IES de porte gigante, isto é, com mais de 20 mil matrículas, representam apenas 3,0% da rede privada e 15,5% na rede pública. As de porte gigante acumulam mais da metade das matrículas do país contra 10,9% das IES de pequeno porte, o que significa uma concentração do setor na mão de algumas poucas instituições.

O Ensino a Distância

Muito provavelmente em decorrência da crise sanitária, tivemos, como já falado, uma queda de 5,8% no total de IES no país. Porém, os números são relativamente positivos em relação ao número de matrículas, mesmo após decorrido um ano de pandemia. O crescimento, ainda que pequeno – de 0,9% no total das matrículas – foi alavancado pela modalidade EAD, que registrou um salto de 26,8% no número de alunos em comparação com 2019.

Para efeito de análise, as matrículas presenciais caíram 9,4% no mesmo período, um padrão que já vinha acontecendo nos últimos anos. De acordo com o relatório do Semesp, ainda houve o fator pandemia, que forçou as instituições de ensino a suspenderem as aulas presenciais e migrarem para um modelo remoto de forma abrupta e sem planejamento.

No caso, o EAD já vinha registrando uma tendência de crescimento nos últimos anos, então o percentual de aumento não surpreende e a pandemia contribuiu para esse salto de matrículas.

O impacto dessa questão já foi demonstrado no Censo da Educação Superior 2020: a diminuição no número de jovens ingressando no ensino superior, o que afeta diretamente a taxa de escolarização líquida no país, ou seja, a taxa que mede a proporção de pessoas de 18 a 24 anos que frequentam o ensino superior em relação à população dessa faixa etária.

É que, como o EAD ainda atrai um público mais velho, entre 29 e 44 anos, que já está inserido no mercado de trabalho, os mais jovens terminam excluídos da educação superior.

Matrículas

De 2018 para 2019 tivemos um crescimento de apenas 1,8% das matrículas; de 2019 para 2020 o crescimento de matrículas foi ainda menor, de 0,9%. Neste último caso, um provável motivo foi o primeiro ano da pandemia da Covid-19, puxado por uma queda de 6,0% de alunos na rede pública, que demorou a adotar o ensino remoto emergencial.

No caso da rede privada, mesmo com a crise sanitária, registrou-se um aumento de 3,1% nas matrículas no período, puxada pela modalidade EAD.

O Instituto Semesp, com base na PNAD Contínua do IBGE, faz projeções de que 2021 deve registrar uma queda de cerca de 7,0% no total das matrículas.

Em relação aos estados brasileiros, três estados da região Sudeste (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) possuem 42,8% do total de matrículas do ensino superior do país. Rondônia possui o maior percentual de alunos em IES privadas (86,0%), seguido pelo Amazonas (84,7%) e Pará (84,4%). Rio Grande do Norte é o estado com menor percentual de alunos matriculados na rede privada, 57,8%.

Quanto às áreas de curso, a área de “Negócios, Administração e Direito” apresenta o maior percentual de alunos em IES da rede privada (89,4%). Essa área também possui o maior número de alunos no ensino superior (2,64 milhões).

A rede privada apresentou um pequeno aumento de 1,4 ponto percentual de alunos da raça negra de 2013 para 2020. Na rede pública, esse crescimento foi de 2,3 pontos percentuais, provavelmente resultado da Lei de Cotas.

Matrículas em cursos presenciais e em EAD

As matrículas em cursos presenciais continuam caindo. Os dados de 2020 apontam 64,2% das matrículas em cursos presenciais, uma queda de 7,3 pontos percentuais em relação a 2019.

A rede privada segue concentrando a maioria das matrículas dos cursos EAD e 94,9% dos alunos da modalidade estão em IES particulares. De 2019 para 2020, a modalidade cresceu 26,8% nas matrículas: com 28,6% de acréscimo na rede privada e queda de 0,2% na rede pública.

Rede pública e privada tiveram estabilidade no número de jovens matriculados até 24 anos, crescendo apenas 0,1 e 0,7 ponto percentual, respectivamente, de 2019 para 2020.

No EAD, por sua vez, as matrículas entre pessoas com mais de 30 anos registrou um aumento de 0,7 ponto percentual de 2019 a 2020.

Ingressantes em cursos presenciais e EAD

A maioria dos ingressantes de 2020 entraram em uma IES da rede privada (72,7%) e, mesmo com esse alto percentual, a rede percebeu uma queda de 15,6% no número de calouros nos cursos presenciais de 2019 para 2020. A redução das matrículas na rede pública foi de 9,1%.

Essa redução, de forma geral, foi causada pela crise sanitária, que obrigou o fechamento das IES e a migração das aulas presenciais para o ensino remoto emergencial.

Muito interessante que é a primeira vez na história da coleta de dados do Censo do Ensino Superior, como bem externa o relatório do Semesp, que o número total de ingressantes no EAD ultrapassa o presencial. Se formos considerar apenas a rede privada, é o segundo ano consecutivo.

Outro dado perceptível é que, quanto maior a idade do estudante, maior o interesse pela modalidade EAD: de 2019 a 2020, o número de ingressantes até 24 anos de idade em cursos presenciais já havia caído 13,9%: 16,5% na rede privada e 7,7% na rede pública. 69,0% desses novos alunos estão na rede privada. A queda seguiria a tendência da diminuição da população dessa idade e seria uma consequência da pandemia.

Os ingressantes até 24 anos representam 67,9% no total de calouros em cursos presenciais: 64,3% na rede privada e 77,5% na rede pública. Historicamente, o público mais jovem prefere a modalidade presencial e possivelmente optou por adiar o ingresso no ensino superior em virtude da pandemia, segundo o Instituto Semesp.

Ingressos no Ensino Superior Privado – fator pandemia

O Instituto Semesp fez a análise da variação do número de novos alunos nas instituições de ensino superior privadas brasileiras no 1o semestre de 2021, até o mês de maio, comparando com o mesmo período de 2020.

Os resultados nos mostram que houve uma queda geral no número de alunos ingressantes em 16,8%. A redução de 20,2% atingiu os cursos presenciais, ao passo que houve um aumento de 20,8% para cursos EAD.

As próprias instituições informaram as causas dessas mudanças, quais sejam: redução na renda familiar dos alunos, incertezas sobre a volta das aulas presenciais e desemprego do próprio estudante.

A pandemia impactou o setor da educação superior e contribuiu, de alguma forma, para que o país seguisse distante da Meta 12 do PNE.

Alunos concluintes

Hoje, 78,8% dos estudantes que concluíram um curso presencial em 2020 são egressos de IES privadas. Esse número caiu 6,0% de 2019 para 2020, sendo 0,4% na rede privada e 22,1% na rede pública, que demorou mais tempo a adotar aulas remotas emergenciais em virtude da pandemia.

No caso dos cursos EAD, mesmo com o aumento nas matrículas, a taxa de evasão continua grande, causando impacto no número de concluintes. No mesmo período, o número caiu 26,7%, sendo 25,9% na rede privada e 46,4% na pública. Vale completar que, com maior concentração de matrículas, a rede privada também possui a maioria dos concluintes, 95,6%.

Por fim, por agora, interessante repercutir os cursos com maior número de concluintes nos últimos 5 anos: com o maior número de matrículas, os cursos de Direito e Pedagogia lideram o número de concluintes de cursos presenciais e EAD, respectivamente.

Leia mais:

Em breve traremos mais informações e análises sobre os cursos de saúde, que mostraram uma maior resiliência neste período de pandemia: não deixe de nos acompanhar.


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