Precisamos de regulamentação para tratar da IA e, mais especificamente, da IA Generativa na educação. Tão certo quanto isto é o fato de que a atual geração de estudantes não vai abandonar o uso da ferramenta em seus processos de aprendizagem, ainda que venha a ser proibida dentro das instituições de ensino.
Então, também é preciso entender o posicionamento de diversas pessoas e organizações, incluindo algumas das principais universidades do mundo, que argumentam que ferramentas como o ChatGPT “chegaram para ficar” e podem ser usadas de forma produtiva em ambientes educacionais.
Na Internet há inúmeras sugestões para o uso da IAGen na educação e na pesquisa, como inspirar novas ideias, gerar exemplos com diversas perspectivas, desenvolver planos de aula e apresentações, resumir materiais existentes e estimular a criação de imagens. Mas o crucial é o que pesquisadores e educadores ainda estão descobrindo sobre sua implicação para o ensino, o aprendizado e a pesquisa; sobre estes achados vejamos a compilação realizada pela Unesco, apresentada em seu “Relatório Guia para a IA generativa na educação e na pesquisa”.
As estratégias institucionais para facilitar o uso responsável e criativo da IAGen
Primeiramente, não há como aceitar o uso da IAGen na pesquisa e educação sem a implementação institucional de princípios éticos: é preciso garantir que pesquisadores, professores e alunos utilizem as ferramentas de maneira responsável e ética, lidando de forma crítica com a precisão e a validade dos resultados gerados.
Lado outro, é crucial fornecer orientação e capacitação para estes atores sobre referidas ferramentas, para garantir que compreendam as questões éticas, como o viés na rotulagem de dados e nos algoritmos, e que respeitem as regulamentações pertinentes de privacidade de dados e propriedade intelectual.
Eles também precisarão ter capacidades em engenharia e avaliação crítica de prompts gerados por IAGen, via capacitação e apoio de alta qualidade, inclusive para detectar plágio em trabalhos escritos.
Alguns pesquisadores defendem que os provedores de IAGen devem rotular seus resultados com marcas d’água com os dizeres “gerado por IA”, enquanto ferramentas ainda estão sendo desenvolvidas para identificar materiais produzidos por IA. Contudo, não há evidências de que estas medidas sejam eficazes. A estratégia institucional imediata é manter a integridade acadêmica e reforçar a responsabilidade por meio de detecção rigorosa realizada por humanos.
Em relação às avaliações, interessante que o Relatório da Unesco avalia que, a longo prazo, as instituições e os educadores precisam repensar a elaboração de tarefas, de modo que não sejam utilizadas aquelas que as ferramentas de IAGen possam realizar.
Guia para a IA generativa na educação e na pesquisa
Pesquisadores e educadores devem priorizar a interação responsável e pedagogicamente adequada entre humanos e ferramentas de IA ao decidir se vão usar a IAGen e de que forma, levando em conta:
Se o uso da ferramenta contribui para atender às necessidades humanas e torna a aprendizagem ou a pesquisa mais eficaz do que com uma abordagem sem tecnologia;
Se o uso da ferramenta responde à sua motivação intrínseca;
Se o processo de uso da ferramenta é controlado pelos humanos;
Se a escolha e organização da ferramenta e do conteúdo gerado são proporcionais, baseadas na faixa etária dos estudantes, nos resultados esperados e no tipo de conhecimento que se espera desenvolver; e
Se os processos de utilização garantem o envolvimento interativo dos humanos com a IAGen e o pensamento de ordem superior, bem como a responsabilidade humana pelas decisões relacionadas à veracidade do conteúdo gerado por IA, as estratégias de ensino ou pesquisa e o seu impacto nos comportamentos humanos.
Desenvolvimento de habilidades básicas
É muito importante que o indivíduo possua habilidades básicas/fundamentais, conhecimentos prévios, capacidades metacognitivas suficientes para verificar os resultados da IAGen e perceber caso haja desinformações.
Portanto, a IAGen pode ser mais apropriada para estudantes de ensino superior.
Enquanto não há regulamentação, importante que os professores compreendam claramente os problemas atuais, monitorem a conversa e ajudem os estudantes a verificar as respostas duvidosas fornecidas pela IAGen.
Com base nas capacidades atuais dos modelos de IAGen, portanto, as instituições educacionais precisam garantir a supervisão humana das respostas fornecidas pelas ferramentas, estando atentas ao risco de desinformação.
Presença do professor
O excesso de confiança na tecnologia pode limitar o acesso dos estudantes à orientação e ao apoio humanos, prejudicando o desenvolvimento de uma estreita relação entre professor e estudante, o que é preocupante no caso das crianças.
Para a Unesco, o método pedagógico de “prática intensiva” não deve ser considerado obsoleto; pelo contrário, deve ser revitalizado e aprimorado com as tecnologias de IAGen, incentivando a prática individualizada das habilidades básicas pelos estudantes.
IAGen para facilitar a aprendizagem baseada em pesquisas ou projetos
Existe grande potencial da ferramenta ser um excelente assistente de pesquisa na aprendizagem baseada em projetos, mas este potencial só pode ser aproveitado por meio de processos educacionais que estimulem o pensamento de ordem superior.
Caso contrário, as ferramentas de IAGen podem incentivar a prática de plágio ou gerar resultados superficiais.
IAGen como apoio a estudantes com necessidades especiais
Em tese, os modelos de IAGen podem auxiliar os estudantes com deficiências auditivas ou visuais. As práticas incluem legendas ou legendas descritivas ativadas pela tecnologia para alunos surdos ou com dificuldades auditivas, bem como a descrição de áudio gerada por IAGen para os estudantes com deficiência visual.
Modelos de IAGen também podem converter texto em fala e vice versa, permitindo que pessoas com deficiências visuais, auditivas ou de fala acessem conteúdos e se comuniquem livremente.
A propósito, a Unesco informa que quatro países - Catar, China, Jordânia e Malásia – validaram e recomendaram ferramentas assistidas por IA tão somente para apoiar o acesso inclusivo de estudantes com deficiência e que esta função da tecnologia ainda não foi aproveitada em todo o seu potencial.
Uso da IAgen na linguagem e no campo socioemocional
As ferramentas de IAGen têm o potencial de auxiliar os estudantes que utilizam línguas minoritárias a comunicar ideias e aprimorar sua colaboração com colegas de diferentes origens linguísticas fornecendo tradução, parafraseamento e realizando correção automática em tempo real.
É claro que esta hipótese só ocorrerá com um desenho intencional; caso contrário não podemos contar com a tecnologia para amplificar as vozes de grupos marginalizados.
Por fim, também no campo educacional e de pesquisa, sugere-se que os sistemas de IAGen possam realizar diagnósticos com base em conversas, identificando problemas psicológicos, socioemocionais e dificuldades de aprendizagem.
Apesar de ainda existirem poucas evidências de que esta abordagem seja eficaz ou segura, e de que quaisquer diagnósticos dispensem interpretação de profissionais qualificados, é uma possibilidade de utilização proveitosa da tecnologia.
Enfim, facilitar o uso criativo da IAGen na educação e na pesquisa faz parte de uma árdua tarefa institucional.
Enquanto não possuímos uma legislação a respeito, que faça sentido para a realidade nacional e para o ecossistema regulatório, esperamos que os gestores escolares se orientem pelos Guias e Relatórios produzidos pelo Governo e pelas entidades não-governamentais – nacionais e internacionais – que detém conhecimento acerca do tema e podem contribuir para um uso mais racional e ético da tecnologia.
Um deles é o material produzido pela Unesco, que pode ser acessado na íntegra aqui.
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