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Ana Luiza Santos e Edgar Jacobs

LIBRAS no ensino a distância: a importância de plataformas educacionais inclusivas

O extenso e excepcional período de uso de atividades não presenciais em cursos presenciais foi crucial para garantir o planejamento da transição e manter os cuidados sanitários indispensáveis para um retorno gradual do ensino. E uma das consequências dessa realidade tem sido a percepção da importância e relevância do ensino a distância como metodologia para garantir a educação no futuro.

Hoje, educação a distância não é mais um meio de reduzir custos e nem mesmo uma forma indesejada de interação. É realidade que está sendo implementada com êxito pelos docentes e muito bem aceita pelos alunos.


Ela atende a muitas perspectivas de eficiência e as aspirações de universalização do ensino, reduzindo as dificuldades impostas pelas distâncias, por exemplo, mas como ficam aqueles alunos com deficiência auditiva?


Trabalho publicado na RACE - Revista de Administração do Cesmac, intitulado A inclusão da LIBRAS na educação a distância nos esclarece alguns pontos, dentre eles que já existem vários estudos em EaD voltados a pessoas com deficiência auditiva e visual.


Origens da LIBRAS no EaD


Foi a lei 10.436/2002 que dispôs sobre a língua brasileira de sinais e reconheceu que ela é uma forma de comunicação e expressão em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.


Essa lei determina expressamente que o sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Apenas depois dessa lei é que a LIBRAS foi reconhecida como forma de comunicação e expressão.


Já o Decreto 5.626/2005 dispõe sobre a importância e uso da LIBRAS, indicando ações obrigatórias para assegurar os direitos da comunidade surda na sociedade, como o ensino de LIBRAS nos cursos de graduação, assim como na alfabetização das crianças surdas, saúde e em demais órgãos públicos.


De acordo com o estudo mencionado, tendo em vista a necessidade de atender à legislação, a Pró-reitora de Graduação (PROGRAD) da Universidade Estadual Paulista (UNESP) propôs, isso ainda em 2012, um projeto ligado ao Plano de Desenvolvimento Institucional da Universidade para oferecer uma disciplina que contemplasse o ensino de LIBRAS para os cursos de graduação. Para que essa oferta atendesse a demanda, devido à capilaridade da universidade, usou como estratégia a oferta da disciplina na modalidade de Educação a Distância (EaD).


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Desafios


Mesmo para um leigo em educação, percebe-se que ensinar uma língua de modalidade viso-gestual a distância não é uma tarefa simples. O estudo menciona, inclusive, que existe a percepção de que, com relação ao ensino de LIBRAS neste ambiente virtual, algumas instituições priorizem o ensino de aspectos teóricos da língua e da surdez em detrimento de práticas da língua, que demandam tempo de contato com falantes, vivência de situações práticas e várias situações de diálogo, o que é mais árido de se fazer no ensino a distância.


Os autores mencionados na pesquisa também citam como desafios a falta de acesso à tecnologias e o despreparo das pessoas para lidar com os diferentes instrumentos disponíveis como fatores que podem determinar o sucesso acadêmico do aluno.


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No país, cerca de 5% da população é surda e apenas parte dela usa a LIBRAS para a comunicação. De acordo com os dados do IBGE, esse número significa 10,7 milhões de pessoas e dentre elas 2,7 milhões não ouvem nada.


A minoria, ou seja, 09% das pessoas com deficiência auditiva nasceram com essa condição e 91% adquiriram ao longo da vida, sendo que metade foi antes dos 50 anos, o que explica muitos não conhecerem a língua brasileira de sinais. Entre os que apresentam deficiência auditiva severa, 15% já nasceram surdos. Do total pesquisado, a maioria (87%) não usam aparelhos auditivos.

Em se tratando de educação, a população surda se enquadra em porcentagens muito baixas de formação. O último estudo que temos, publicado pelo Instituto Locomotiva, é de 2019 e mostra que apenas cerca de 7% dos surdos brasileiros têm ensino superior completo, 15% frequentaram a escola até o ensino médio, 46% até o fundamental, enquanto 32% não têm nenhum grau de instrução (na população em geral, esse número é de apenas 8%).


Das 10,7 milhões de pessoas com alguma deficiência auditiva, apenas 37% delas estão inseridas no mercado de trabalho. A pesquisa mostra que, em comparação, esse número é de 58% entre a população geral, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Reflexo também dos obstáculos que foram encontrados na educação.


Como mencionamos, apenas 7% dos brasileiros surdos conseguem concluir o ensino superior, enquanto a média geral é o dobro: 14%. Segundo relatos ouvidos durante a pesquisa do Instituto Locomotiva, muitos surdos não conseguem concluir a graduação em razão da falta de intérpretes nas universidades.


Diante desse cenário, são crescentes as propostas de novas tecnologias comunicativas e formas de comunicação na academia com foco na busca por igualdade e acessibilidade, o que deve, claro, incluir a EaD.


EaD: aprender LIBRAS e/ou ter acesso ao intérprete na graduação


São dois os focos de qualquer maneira: a ideia é que a instituição de ensino ofereça o curso de LIBRAS a distância e possa acolher o aluno deficiente em qualquer de seus cursos de graduação EaD. Ofertar recursos de acessibilidade nestes casos é, com certeza, uma boa prática e um fator determinante para que o estudante escolha determinada instituição de ensino.


Não faltam plataformas educacionais inclusivas que possam aderir à LIBRAS em seus conteúdos digitais. Muitas ferramentas permitem que pessoas surdas possam acompanhar as aulas, acessar as notícias de vídeo e não há justificativa para que as IES não se adequem também neste sentido, providenciando intérpretes para atender aos alunos sempre que necessário.


Ferramentas tecnológicas


Como exemplos, citamos duas ferramentas muito utilizadas. Uma delas é a Hand Talk , que apresenta um plugin com avatar digital para reproduzir a Língua Brasileira de Sinais a quem precisar ou se interessar. Funciona como uma verdadeira tradução de todo o conteúdos para Libras.


Outra ferramenta/aplicativo é da empresa ICOM-Libras, que faz o intermédio entre pessoas que se comunicam por sinais em Libras e as que não utilizam, traduzindo a conversa em tempo real. As plataformas ICOM-Libras e Central de Libras, utilizada em empresas de telecomunicação, somam cerca de 100 mil usuários.


Lembrando que à medida que toda e qualquer tipo de diferença é acolhida, nos permitimos uma convivência diversificada e baseada no respeito. Uma educação e uma sociedade inclusiva são o caminho.




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