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Ana Luiza Santos e Edgar Jacobs

O ensino a distância está funcionando para seu filho?

A pandemia e a necessidade de isolamento social causaram um grande transtorno em todo o mundo. Alguns setores considerados essenciais mostraram maior resiliência econômica, como os supermercados, farmácias, serviços de telecomunicações e setores de TI e internet.

Setores dependentes de confiança do consumidor, da renda e demanda também foram bastante afetados, mas não se comparam à aviação, ao turismo, bares, restaurantes, shoppings e vestuário.

Em relação às escolas a suspensão das aulas presenciais, de acordo com a OCDE, afetará a economia global até o fim do século; há uma previsão de perda de 1,5% no PIB brasileiro, efeito que será sentido a longo prazo.

Atrasos no pagamento, inadimplência, pedidos de descontos e cancelamento de matrículas são pontos que auxiliam no agravamento financeiro das escolas, que já chegaram a maio desse ano com significativa perda de receita.

As razões pelas quais a pandemia afeta a educação passam também pelo fato de que o prejuízo no aprendizado pode levar à perda de habilidades que terão impacto em produtividade futura, dado pouco alentador considerando que no Brasil o tempo de fechamento de escolas já é maior do que na média dos países ricos.

Neste momento já presenciamos o retorno das atividades escolares presenciais em algumas instituições do país, mas são retornos pontuais mesmo dentro de cada município.

Os pais, lado outro, com as crianças em casa, se angustiam com a falta do suporte da escola, restando-lhes um acompanhamento das atividades de forma mais próxima e o apoio para que os filhos possam lidar com a tecnologia. É um desafio diferente para cada ano escolar.

De fato, a maioria dos pais não esperava estar na escola novamente, enfrentando as tabuadas e as aulas de Geografia; apesar de todos os esforços dos professores, há uma falta de sossego por parte das famílias, que estão ansiosas e se perguntando: como vou saber se meu filho está aprendendo alguma coisa neste momento?

Este é o mote de interessante texto publicado no The New York Times dessa última semana e a resposta é: concentre-se nos resultados, também chamados de metas, que são um conjunto de habilidades que o aluno deve dominar ao final do ano letivo.

Por exemplo, um resultado típico para um aluno da terceira série em Português pode ser que ele saiba como usar palavras de transição para variar a estrutura de uma frase ou, por exemplo, em Matemática, que o estudante consiga estimar e medir um perímetro. Podemos mencionar também as habilidades em Artes ou Dança verificando se o aluno tem a capacidade de demonstrar sequências de passos simples. Os resultados devem ser uma lista clara e determinada de habilidades.

Para o professor é mais interessante se concentrar no que seus alunos ainda precisam adquirir em habilidades do que no que ainda precisam fazer, como um exame final, por exemplo. Isso permite que eles se dediquem a meios alternativos de entrega e avaliação com um objetivo claro em mente.

À medida que a crise educacional causada pela pandemia continua, todos os níveis de educação devem se ater mais no número de habilidades que os estudantes precisam aprender e menos na quantidade de tempo gasto nas aulas síncronas. Isso é especialmente importante nos primeiros anos, onde a educação se liga a marcos de desenvolvimento.

Lembrando que, junto às crianças, temos pais que estão fazendo o impossível para encontrar tempo e energia para ajuda-las.

Como saber se meu filho está ou não em um bom processo de desenvolvimento?

O texto em referência nos dá algumas dicas práticas:

Descubra como a escola do seu filho mede o sucesso: acesse o plano de aprendizagem da escola ou peça ao responsável uma lista completa de objetivos de aprendizagem para a série respectiva. Vale ressaltar que os resultados não são sinônimos de grandes projetos, notas ou notas em testes. Você quer saber quais habilidades seu filho precisa aprender antes do final do ano. Ao compreender as expectativas de aprendizagem os pais ganham um senso de organização e controle.

Isso pode ser encontrado no projeto pedagógico da escola, também chamado de proposta pedagógica, onde, dentre outras coisas, serão definidos os objetivos educacionais e as metas a serem alcançadas.

Depois de entender o que se espera de seu filho, você poderá envolvê-lo melhor no processo de aprendizagem, de maneira informal e dentro de suas possibilidades: é fato que as famílias precisam coordenar a vida profissional e os afazeres domésticos com uma infinidade de solicitações por parte da criança. Assistir a um documentário juntos ou envolve-la em algum assunto com base em uma notícia de jornal, por exemplo, pode ser um bom e viável caminho.

É sabido que há grande impacto positivo no desenvolvimento da criança e do adolescente quando há envolvimento da família com a vida escolar. Então, nesse momento tão particular, o melhor a fazer é se interessar pelos temas e assuntos que estão sendo apresentados nas aulas não presenciais, compartilhar curiosidades afins e, claro, demonstrar interesse em relação aos fenômenos naturais, sociais e culturais. O jovem estudante deve entender que não deixamos de buscar informações ao longo da vida e que o aprendizado é contínuo.

“Quando a criança vê que seus pais também têm curiosidade por aquilo que elas aprendem, que nem sempre têm as respostas, mas que vão buscar, isso tem um impacto grande na vida delas. Crianças se apaixonam primeiro pelo amor que elas enxergam que os adultos dedicam aos objetos culturais. Instigar o desejo de perguntar e investigar é a grande forma que a família tem para apoiar a aprendizagem. Muitas vezes, quando as crianças solicitam a presença dos pais, não é necessariamente porque têm uma dúvida, mas pelo sentimento de ansiedade que estão vivendo nesse momento.” Maria José Nóbrega, no texto Não é momento de os pais se transformarem em alfabetizadores, Revista Educação.

Mencionar a necessidade de instigar as crianças à leitura é essencial. Se a prática já for usual na família deve ser mantida e ainda mais exaltada. Se não for, é hora de começar dando o exemplo, sem subestimar a inteligência dos pequenos.

Os pais também devem repensar as avaliações trazidas pela escola, não focando somente nas notas obtidas; a observação das habilidades adquiridas, como perguntar para a criança, em um passeio, se ela já consegue ler diferentes formas de letra cursiva, faz mais sentido no momento. Ou seja, verificar informalmente uma habilidade e saber no que trabalhar no futuro.

O objetivo importa, não o método: é mais adequado que os pais façam perguntas criativas e desafiadoras a seus filhos sem definir uma maneira rígida para demonstrar o que foi apreendido.

Outra dica é solidificar o relacionamento com o professor do seu filho, pedindo auxílio caso sinta necessidade. Pais de alunos da mesma turma podem se reunir e definir as dúvidas comuns sobre o processo pelo qual estão passando e, nas reuniões escolares, pedirem um tempo para tais questionamentos. Provavelmente as famílias estão passando pelos mesmos dilemas.

Enfim, como já dissemos, não é esperado dos pais – sequer é possível - que se transformem em professores/alfabetizadores. A docência é uma atividade profissional que compreende zelar pela aprendizagem dos alunos e propor estratégias de recuperação das deficiências.

Além do auxílio prestado pelos professores, as instituições de ensino possuem atendimento de apoio que contam com profissionais multidisciplinares. Os/as pedagogos/as especialistas, os/as psicólogos/as e, em alguns casos, assistentes sociais, podem auxiliar grandemente as famílias neste período de angústia e incertezas.

Aos pais, enfim, a orientação é que continuem acompanhando os resultados apresentados pelos filhos da forma mais prática e lúdica possível, auxiliados pelas metas definidas nos projetos pedagógicos e, se necessário, que solicitem os serviços especializados ofertados pelas instituições. A parceria escola e família nunca foi tão importante.


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