Publicamos há pouco tempo um estudo realizado pelo grupo de trabalho da Academia Brasileira de Ciências (ABC) que concluiu, entre outras coisas, que faculdades públicas, cursos noturnos e a expansão do ensino a distância em cursos superiores seriam algumas das soluções para aperfeiçoar o ensino superior público e democratizar o acesso à educação de qualidade. As conclusões se tornaram propostas e foram divulgadas no relatório “Um olhar sobre o ensino superior no Brasil”, publicado no dia 07 de novembro desde ano.
Dentre as principais propostas do grupo está a criação de faculdades federais, instituições voltadas exclusivamente para o ensino, pretendendo a formação de profissionais qualificados a um custo menor por aluno, com o intuito de expandir o acesso de estudantes ao ensino superior público.
Lembrando que hoje as universidades federais dedicam-se também à pesquisa e à extensão e a proposta seriam instituições públicas focadas exclusivamente em formar estudantes no ensino superior para facilitar a abertura de vagas que se adéquem às demandas atuais dos alunos, como, por exemplo, maior flexibilidade e acesso ao ensino noturno.
Leia:
O ensino a distância
O relatório mencionado - Um olhar sobre o ensino superior no Brasil - propõe a ampliação e qualificação da oferta de cursos públicos na modalidade EaD, destinados àqueles estudantes que necessitam de flexibilidade no seu processo de qualificação profissional.
A constatação vai ao encontro do material que temos publicado; e por várias razões. A mais simples delas é a patente incorporação do uso da tecnologia digital às soluções de problemas tradicionais nas instituições de ensino superior.
Com a proliferação da Covid-19, houve uma amplificação e agilização destes usos, notadamente quando, declarada a pandemia, tivemos uma reviravolta na programação educacional e todo o ensino foi compelido a migrar para atividade não-presenciais.
E mesmo que o ensino remoto praticado na pandemia apenas se assemelhasse ao EAD, por ser uma educação mediada pela tecnologia, a sociedade como um todo passou a vivenciar um novo tipo de abordagem educacional.
E, por óbvio, a educação pública não poderia ficar à margem das inovações.
Outro motivo para apoiar o EAD tanto no setor privado quanto no público é sua capilaridade. A concentração de IES nas regiões mais populosas do país deixa extenso território carente e a capacidade do EAD de alcançar e atender os estudantes aonde quer que eles estejam, bastando o adequado acesso à rede, é de grande valia. O que é preciso é que a oferta do ensino seja de qualidade.
Lembrando que no ensino superior, diferentemente do que ocorre no ensino básico, embora também existam histórias de sucesso, o estudante já possui um certo grau de autorregulação, que vai sendo aprimorado a cada período no EAD, com o apoio dos professores e da instituição de ensino, favorecendo uma independência no aprender.
Com a utilização das metodologias ativas do EAD, temos um excelente caminho para desenvolvimento da autonomia, que, ao final, é uma das mais importantes capacidades que precisamos desenvolver, além de favorecer a criatividade, o pensamento crítico e as habilidades socioemocionais. Saber trabalhar o EAD é a chave para o sucesso deste método que beneficia milhões de estudantes ao redor do mundo.
Valorização de todo ensino superior
O estudo do grupo de trabalho da ABC também objetiva valorizar o ensino superior e ampliar o acesso a ele pela população brasileira. Ainda que o governo necessite de algum corte de gastos, a educação deve ser priorizada e é assim que a presidente da Academia Brasileira de Ciências e uma das integrantes do GT, Helena Nader, se manifesta:
“Educação, na nossa visão da Academia, deveria ser uma prioridade do Estado brasileiro. Sem educação não vai haver economia estável e não vai haver justiça social. Sabemos dos cortes, mas o país precisa de mais pessoal qualificado profissionalmente, inclusive frente a essas mudanças que vêm em função da inteligência artificial”.
Atentos a este e aos posicionamentos da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) quando da Consulta Pública do MEC sobre a EaD no Brasil, também entendemos que, historicamente, há evidências e fatos registrados sobre o avanço da EaD, demonstrando casos de sucesso e insucesso, mas que o valor agregado à sociedade brasileira pela modalidade já é inegável.
Ela já faz parte da realidade educacional brasileira e o que precisa ser feito é rever o processo de avaliação externa, lembrando sempre que a sociedade e as tecnologias avançam “a passos largos e não podem esperar que a burocracia, o corporativismo e a autocracia definam regras de qualidade para a educação a passos lentos e em descompasso frente às expectativas dos novos milhões de alunos e de professores que chegam e chegarão até 2030, ávidos por um novo conceito de universidade, de currículo e de atenção à empregabilidade na parceria universidade e sociedade”. (GT - Consulta Pública do MEC sobre a EaD no Brasil)
Mais a mais, sempre lembramos em nossas publicações que no EAD há diversos métodos e estratégias pedagógicas baseados em pesquisas e em práticas bem sucedidas que possibilitam e asseguram formação sólida. Se existem problemas em relação à qualidade da formação, ela existe tanto no presencial quanto no EAD e o fato ocorre por uma falta de gestão e de acompanhamento sistemático destes cursos.
A demanda social é por uma ação de interesse político profunda, perene, que não ignore a complexidade do sistema educacional e as verdadeiras origens dos problemas da educação no país.
E seja no setor público ou privado, o estudante deve ter direito de escolha acerca de qual proposta educacional aderir, resguardado pelos parâmetros legais de qualidade e credibilidade que toda IES deverá seguir.
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