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Ana Luiza Santos e Edgar Jacobs

O ensino híbrido pode acelerar o processo de aprendizagem ativa

Muitos dos alunos de graduação dividem o seu tempo entre estudo e trabalho; não por menos o último Censo Escolar nos informa que, entre 2011 e 2021, o número de ingressantes em cursos superiores de graduação na modalidade EAD aumentou 474%. E, no mesmo intervalo de tempo, a quantidade de ingressantes em cursos presenciais diminuiu 23,4%.


Mas, ainda que EAD, o ensino pode ser o tradicional, no qual aluno e professor permanecem juntos durante a fase expositiva do conteúdo, quando se exige uma capacidade cognitiva relativamente baixa dos estudantes, que participam passivamente do processo, ouvindo, tomando notas e, eventualmente, fazendo perguntas. E depois, durante os deveres de casa ou a realização de trabalhos ou projetos extraclasse, que exigem maior grau de complexidade, o professor não está presente.


Esse modelo tradicional estabeleceria uma relação inversa entre o grau de dificuldade cognitiva do trabalho do aluno e o acesso desse aluno ao suporte do professor. Ou seja, no modelo tradicional, que pode ser presencial ou não, os alunos estão fazendo o trabalho mais simples quando têm suporte direto do professor e o trabalho mais complexo quando esse apoio não está disponível.


O conceito de ensino tradicional e as conclusões sobre o ensino híbrido - não tradicional – ser capaz de potencializar o processo de aprendizagem ativa foram formuladas pelos professores Gustavo Hoffmann Leão Coelho, Verônica Paludo Bressan e Daiane Folle no artigo O ensino híbrido como catalisador do processo de aprendizagem ativa.


Pois bem, sobre a aprendizagem ativa, é aquela que parte não da oferta do conteúdo, mas de situações problema. Quando o conteúdo não é entregue ao aluno antecipadamente, mas utilizado como ferramenta para a sua solução. E para que essa aprendizagem ativa se concretize, a instituição de ensino se municiará das metodologias ativas de aprendizagem, contrárias ao modelo tradicional e que fazem com que o próprio aluno seja responsável pela busca e construção do conhecimento. Neste processo, diferentemente do método tradicional, como dissemos, o estudante deve ter o apoio direto do professor nos momentos que envolvem maior complexidade cognitiva.


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O estudo referência do nosso texto apresenta uma das definições teóricas sobre o ensino híbrido como um ´programa de educação formal no qual um estudante aprende parte do processo por meio do ensino on-line com algum elemento de controle do aluno sobre o tempo, local, caminho e/ou ritmo de aprendizagem e outra parte do processo em uma localidade física supervisionada, fora de sua residência; as duas partes devem estar conectadas, oferecendo uma experiência de educação integrada.´


E, no caso, os estudos têm demonstrado que o ensino híbrido promove ganhos de aprendizagem maiores do que o ensino 100% EAD e maiores do que o ensino 100% presencial tradicional.


Formatos de oferta do ensino híbrido


A sala de aula invertida é uma das técnicas de ensino e uma forma de aprendizagem combinada citada como adequada ao processo de ensino híbrido. Os alunos assistem a palestras e participam de debates online e/ou realizam pesquisas em casa. Posteriormente, o tempo em sala de aula é usado para discutir assuntos em mais detalhes e são estabelecidas experiências de aprendizagem substantivas.


Os conceitos são compreendidos antes da aula, portanto. Depois, em sala de aula, com os demais estudantes e com a ajuda do professor, o que foi apreendido é discutido e mais bem assimilado.


O Peer instruction também é mencionado no estudo como um método de ensino interativo, baseado em evidência, popularizado no início da década de 1990 por Eric Mazur, professor da Universidade Harvard. De forma simplificada, funciona da seguinte maneira: o professor apresenta um problema para a turma e os alunos discutem as respostas. No momento seguinte, o professor pode participar das discussões como ouvinte, o que lhe permite entender os pontos de vista dos alunos sobre a questão, perceber eventuais problemas de interpretação e compreensão e argumentar de maneira mais eficaz. Um benefício é que o professor pode entender a lógica do erro do aluno, sendo mais direto em suas explicações.


Nesse estudo foi comparada a eficácia do modelo tradicional de ensino com o modelo híbrido, no caso utilizando-se dos formatos da inversão da sala de aula e do Peer Instruction nos momentos presenciais com os alunos.


Resultados


O desempenho dos estudantes foi registrado em percentual e em quatro das cinco IES participantes do experimento foi possível identificar uma performance superior dos alunos expostos à metodologia Peer Instruction com a utilização do Ambiente Virtual de Aprendizagem. Isso comparados àqueles alunos expostos às aulas em metodologia tradicional, completamente expositiva.


Uma das cinco IES participantes apresentou um desempenho inferior ao do grupo experimental, mas essa diferença, de acordo com o estudo, não foi estatisticamente significativa.


Fato que a utilização de metodologias ativas permitiu o desenvolvimento de outras competências que vão além daqueles conteúdos medidos pelas avaliações presenciais, tradicionais. O que foi compreendido também é que o acesso ao conteúdo, conjuntamente aos encontros presenciais, promoveu os resultados encontrados no estudo.


Os encontros se davam em no máximo uma semana após o acesso ao conteúdo online, ocasião em que eram utilizadas as metodologias ativas; nesse momento os alunos tinham a oportunidade de aplicar os conceitos estudados na plataforma.


´Ou seja, os testes conceituais aplicados nos momentos presenciais através do Peer Instruction davam ao conteúdo uma aplicabilidade prática, promovendo uma aprendizagem significativa. Esta combinação se mostrou mais efetiva do que o ensino exclusivamente presencial e expositivo´. (Trecho do texto artigo O ensino híbrido como catalisador do processo de aprendizagem ativa.)

Os alunos que participaram da inversão da sala de aula tiveram um desempenho melhor nas avaliações do que os alunos submetidos ao ensino tradicional (predominantemente expositivo), sugerindo maior aprendizagem, portanto. E, mesmo dedicando apenas 50% do tempo nos momentos presenciais, os alunos submetidos ao ensino híbrido também tiveram melhor desempenho.


A conclusão dos autores da pesquisa, além da sugestão de mais estudos, inclusive para padronizar os testes a serem aplicados, é a necessidade de uma mudança do modelo tradicional de sala de aula. E essa alteração no ensino não é apenas técnica. Ela deve ser cultural, facilitando uma quebra de resistência de alguns próprios professores. No estudo, por exemplo, pressupõe-se que os resultados tenham sido satisfatórios porque os docentes que participaram da pesquisa já eram familiarizados com as metodologias ativas e não se opuseram em relação à adoção do modelo.


E se já é percebido que novos formatos na oferta do ensino podem gerar impactos positivos no desenvolvimento dos estudantes, devemos abraçá-los, superando as dificuldades técnicas e culturais.


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