O modelo tradicional de ensino é conhecido como passivo. Nele, o aluno acompanha a matéria lecionada pelo professor - que é o protagonista da educação - por meio de aulas expositivas, com aplicação de avaliações e trabalhos. Na metodologia ativa, por sua vez, o aluno é o maior responsável pelo processo de aprendizado. Quando maduro o suficiente para a metodologia, exerce controle sobre seu processo cognitivo e motivacional, de modo a captar, organizar e transformar as informações adquiridas ao longo do tempo.
As metodologias ativas têm se mostrado uma boa solução aos inúmeros problemas e desafios enfrentados pela educação formal. Ela consegue alcançar uma aprendizagem efetiva que faça com que os estudantes se conheçam e construam seus projetos de vida de forma independente.
Quando a pandemia Covid-19 foi decretada e as escolas fecharam suas portas nos estados brasileiros, nos deparamos com uma situação constrangedora: se o estudante padrão, em ensino presencial, com apoio do professor e do grupo, já vislumbrava dificuldades em aprender, o que dizer daquele momento, em educação a distância por necessidade? Porque o ensino remoto emergencial das escolas que seguem a metodologia tradicional seguiu no mesmo padrão tradicional, apenas mediado pela tecnologia. O aluno, em regra, ficou desamparado: sem o olhar e a atenção do professor; sem o grupo de apoio.
As escolas que seguem as metodologias ativas também continuaram seus projetos e aparentemente obtiveram bons resultados com seus estudantes.
No caso, a propósito, em grande parte, os alunos afetados pela pandemia pertencem à Geração Z ou Centennials, geração dos indivíduos nascidos em meados dos anos 1990 e 2010. Hoje são crianças a partir de 9 anos aos já adultos de 23. São os primeiros nativos digitais, termo criado pelo norte-americano Marc Prensky para aquele que nasceu e cresceu com as tecnologias digitais presentes em sua vivência. Este grupo possui características que consolidam um abismo em relação aos imigrantes digitais, especialmente em relação ao raciocínio não-linear. Consomem informação via celulares e tem preferência por vídeos curtos, fotos e jogos. Enfim, aprendem de várias maneiras, conseguindo ser multifocais. São autodidatas em vários assuntos e buscam por si mesmos informações, geralmente em vídeos na internet.
A necessidade de usar a tecnologia no momento de crise não afligiu os alunos, portanto, mas, ainda assim, a mudança das aulas presenciais para as aulas remotas no método tradicional foi assustadora. As aulas meramente expositivas se tornaram também solitárias e, dependendo da idade e maturidade dos estudantes, podem ter gerado um déficit educacional considerável, apesar do esforço de todos os envolvidos no processo.
No caso dos alunos familiarizados com as metodologias ativas, as aulas deram espaço para projetos mais criativos, jogos, tarefas colaborativas, debates e outras formas de aprendizado que colocam os estudantes no centro de situações diversas para construir o conhecimento.
Nesses casos foram utilizadas propostas que prestigiavam a busca pelo saber e a interatividade com os outros colegas. A hierarquia com o professor também é diferente e ele tende a ter uma relação mais próxima dos estudantes.
As metodologias ativas no contexto da pandemia – um estudo de caso
Um caso interessante de como a utilização das metodologias ativas pode auxiliar no processo de ensino e aprendizagem durante as aulas remotas foi percebido na Escola Estadual de Ensino Médio Maria José Coutinho, Quiterianópolis, cidade de 20 mil habitantes do interior do Ceará. A pesquisa demonstra que as metodologias ativas já eram utilizadas nas aulas presencias da escola e continuaram nas aulas remotas, com algumas adaptações, e que a atitude dos professores influencia e contribui para a motivação e estimula o aprendizado.
Inicialmente, são apresentadas as seguintes metodologias ativas de ensino que podem ser usadas no contexto do ensino remoto, desde que bem planejadas, obviamente:
Fórum e Fórum Invertido;
Gamificação;
Sala de aula invertida;
Storytelling;
Team-Based Learning (TBL) – Aprendizagem em Pares ou Times e o Think Pair Share (TPS) – Pensar, Compartilhar e Socializar (PCS); e
Video Based Learning (VBL) – Aprendizagem Baseada em Vídeos.
A pesquisa envolveu questionário aos professores e aos alunos. Os docentes foram questionados sobre qual ou quais metodologias foram utilizadas por eles, tanto nas aulas presenciais como remotas.
No caso, a aula expositiva dialogada foi a mais utilizada, com 63,2% durante o período presencial e 47,4% durante o período remoto, via Google Meet. No caso, de acordo com a pesquisa, a aula expositiva dialogada tem como princípio a abertura de um canal de comunicação entre alunos e professor. Os alunos ‘fazem perguntas ou dão suas opiniões durante todo o processo e o professor, ao invés de apenas expor conteúdos, joga para os alunos uma base de conteúdo e depois lança perguntas para que possam ser debatidas entre eles e com o próprio professor’.
Durante o ensino remoto também houve um aumento significativo quanto ao uso do Video Based Learning (21,1%) e da sala de aula invertida (15,8%).
Já os alunos, questionados sobre os métodos de preferência durante o ensino remoto, mencionaram as “Rodas de conversa nas web aulas via Google Meet” e os “Vídeo aulas com explicação do conteúdo”, ambos com 72,6%. Um item final do questionário deixava que os estudantes se expressassem sobre outras atividades desenvolvidas pelos professores que eles entendiam que aumentavam o protagonismo e a interatividade nas aulas remotas.
Os alunos deram ênfase às ‘web aulas bem organizadas e criativas, com interação e diálogo, resolução de exemplos e correção de atividades, bem como a realização de experimentos pelo professor; atividades no Google formulários, atividades que elevem a autoestima e motivem, além das sugestões de posts para as redes sociais e a realização de experimentos pelos estudantes; desafios propostos durante as web aulas, com jogos de raciocínio, jogos interativos, desafios relacionados ao conteúdo e quis (síncrono ou assíncrono)’.
Os estudantes também ressaltaram que a criatividade e a forma como os professores explicaram os conteúdos e incentivavam a participação, estando disponíveis para ajudá-los, servia de estímulo e motivação para que continuassem firmes no acompanhamento das aulas remotas.
O estudo realizado na escola cearense Maria José Coutinho conclui que é viável e relevante o uso de metodologias ativas no ensino remoto e que algumas delas tornam-se até mais úteis em um momento complicado como o pandêmico, ainda que necessitem adaptações para sua aplicação e execução por meio das tecnologias.
A pesquisa também aponta para a necessidade de formação contínua dos docentes, tanto no que diz respeito ao uso das tecnologias quando das metodologias ativas para o ensino remoto.
Enfim, o estudo relatado é uma prova – dentre tantas outras - que as metodologias ativas, se bem aplicadas, funcionam tanto nas aulas remotas quanto nas aulas presenciais. E podem ser mais eficientes que os métodos de ensino tradicionais em se tratando de aulas remotas, síncronas ou não.
Além de dar espaço para a criatividade, para o pensamento crítico e favorecer as habilidades socioemocionais, as metodologias ativas são um excelente caminho para desenvolvimento da autonomia, que, ao final, é uma das mais importantes capacidades que precisamos desenvolver.
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