Não se sabe quando poderemos retomar as aulas presenciais. E mesmo depois do tão esperado retorno, ainda há a possibilidade de sermos compelidos a paradas intermitentes, decorrentes de novas ondas de contaminações pelo coronavírus.
Sem vacina, não é de se espantar que vivamos em um constante “abre-e-fecha”, como diz o biólogo Atila Iamarino. Esse estado alternado de emergência diz respeito a fronteiras e também a atividades, em especial a escolar, onde há grande concentração de pessoas.
Uma maneira de se contornar os problemas trazidos pela reunião diária de alunos e professores, no caso das universidades, será programar retornos alternados. A aula pode acontecer no espaço físico da universidade para uma parte dos estudantes, enquanto os demais acompanham pela rede e os grupos vão se alternando de modo que todos possam ser atendidos adequadamente – e sem aglomeração.
Desta forma, as atividades práticas, por exemplo, poderão ser realizadas de maneira apropriada e todos os alunos terão o suporte presencial a seu tempo.
Em alguma medida já estamos aprendendo que muitas tarefas – escolares ou administrativas - podem ser feitas de forma satisfatória de forma remota. Sejam seminários ou aulas expositivas, sejam reuniões de professores, há muito o que aprender com a ocasião.
A tendência, portanto, é que, qualquer seja a situação, seja pela redução do risco de contaminação, seja pela chegada de uma vacina eficiente, a universidade provavelmente não voltará a ser exatamente como antes.
Todo o esforço em desenvolver plataformas adequadas e em construir o conhecimento para seu uso não serão desperdiçados e ainda teremos a tranquilidade de usar os encontros na universidade com um número reduzido de pessoas por vez, o que pode contribuir para refinar os relacionamentos aluno/professor e afinar o ensino.
Desde o vestibular as instituições podem continuar se beneficiando das atividades online. Há um bom tempo muitas se utilizam das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) para o preenchimento das vagas de seus cursos, mas outras muitas já aplicam a prova exclusivamente remota, o que é viável e legal, já que as instituições de ensino superior têm autonomia para elaborar as questões do seu concurso de ingresso.
Em relação a avaliações, também há diferentes formas de fazê-lo de forma totalmente remota: podemos aplicar testes on-line, a serem respondidos e enviados para o avaliador por e-mail ou formulários de envio. Já tratamos do tema em texto específico, inclusive mencionando tecnologias de reconhecimento facial amplamente usadas ao redor do mundo.
Leia:
Enfim, os encontros podem ser utilizados para avaliações, mas as instituições também podem fazê-las de forma remota ou combinar as duas possibilidades.
O ensino híbrido
Vários aspectos que já foram mencionados ligam-se ao chamado ensino híbrido, uma proposta inovadora para a educação que permite aplicar os benefícios da tecnologia em sala de aula. Como dissemos, o estudante tem acesso à sala de aula e acesso às aulas online, combinando-se as vantagens dos dois processos.
O aluno continua estimulado pelas interações sociais e culturais proporcionadas pelos colegas e professores e mantem-se em contato com as ferramentas tecnológicas do campo da educação.
No caso de um bom projeto pedagógico híbrido, há um equilíbrio entre tempos de aprendizagem pessoal e colaborativa. Aprendemos com os professores e alunos; aprendemos sozinhos.
O ensino híbrido é bem mais que apenas uma separação entre encontros presenciais e encontros remotos. Para além da iminente necessidade de mudanças em razão da pandemia, o modelo evoluiu para abarcar um conjunto mais rico de estratégias de aprendizagem, entre elas a forma proposta no livro “Ensino Híbrido, Personalização e tecnologia na educação”, organizado por Lilian Bacich, Adolfo Neto e Fernando de Mello Trevisani.
Podemos dizer, então, que há duas formas de entender o ensino híbrido: uma diz respeito à mistura do método tradicional, presencial, com o ensino a distância. Normalmente, nesse caso, determinadas disciplinas são ministradas na forma presencial enquanto outras apenas on-line. É o uso original do termo e assim devem funcionar – pelo menos inicialmente - as universidades quando puderem retomar alguma atividade presencial. E, no caso, também controlando o número de alunos em sala de aula.
A outra forma de entender o ensino híbrido abrange um conjunto ainda mais rico de estratégias de aprendizagem, em que não existe uma forma única de aprender, sendo processo contínuo, de diferentes formas e em diferentes espaços.
Qualquer que seja a definição de ensino híbrido, é bom reforçar, todas apresentam uma convergência de dois modelos de instrução: o modelo presencial, em sala de aula, como vem se realizando há tempos, e o modelo on-line, que se utiliza das tecnologias digitais para promover o ensino. Os modelos são complementares entre si.
Quando se trata do modelo híbrido mais amplo, vemos que a figura do estudante ativo se torna ainda mais necessária, pois compreende competências amplas, projeto de vida, metodologias ativas, personalização e colaboração com tecnologias digitais. O currículo é mais flexível e as reuniões ocorrem de várias formas, em grupos e momentos diferentes. Não há horários rígidos ou planejamentos engessados. É um modelo interessante e atende com excelência o aluno maduro e autorregulado.
Otimização do espaço escolar
O ensino híbrido também permite uma otimização do espaço escolar, o que, neste momento, é necessário. Países que já estão em fase de retorno às aulas estão, em regra, posicionando mesas e cadeiras com grande distância umas das outras, definindo dias específicos para cada turma frequentar ou não o espaço físico da escola, evitando a proximidade indesejada. Se os alunos podem revezar entre on e off-line, o planejamento de retorno fica facilitado.
E se lidamos com o ensino híbrido em sua versão mais ampla, espera-se que toda a infraestrutura da escola seja utilizada, personalizando-se ainda mais o ensino. Porque não utilizarmos outros ambientes como a biblioteca, os laboratórios específicos, o pátio, o refeitório (quando existente) e até a própria cozinha? Se a utilização do espaço estiver em consonância com o objetivo proposto não há por que não fazê-lo. Lembrando que o conhecimento acontece quando algo faz sentido, quando é experimentado, quando pode ser aplicado de alguma forma ou em algum momento.
As mudanças são bem-vindas
As mudanças são necessárias - isso é fato - e bem-vindas. Nos últimos 30/40 anos o mundo passou por inúmeras e grandes transformações, mas o espaço escolar continua praticamente o mesmo.
O momento é propício para a construção do espaço para o ensino híbrido. Podemos exemplificar com a ideia de que nem todos os estudantes de uma sala de aula têm a mesma necessidade de aprender ou reforçar um conteúdo: o professor pode, então, separar os grupos e apresentar materiais, tarefas e/ou aulas diferentes. O objetivo é que, ao final, todos possam ter tido oportunidades de desenvolverem suas capacidades ao máximo.
Todo o processo exige participação dos docentes e compromisso da instituição; a transformação do espaço da sala de aula rumo ao ensino híbrido segue alguns passos básicos sugeridos por Glauco de Souza Santos no livro “Ensino Híbrido, Personalização e tecnologia na educação”, como avaliar os alunos; planejar as atividades e os grupos; planejar o espaço de aprendizagem; integrar a equipe escolar e, por fim, implementar o método.
A pandemia, enfim, talvez nos arraste a romper de alguma forma com o conservadorismo das práticas pedagógicas repetitivas e acríticas, nos permitindo atender ao que os cientistas da educação clamam há anos.
Gostou deste texto? Faça parte de nossa lista de e-mail para receber regularmente materiais como este, além de notícias e artigos de seu interesse.
Fazendo seu cadastro você também pode receber mais informações sobre nossos cursos: eles oferecem informações atualizadas e metodologias adaptadas aos participantes. Temos cursos regulares, já consagrados, dos quais já participaram mais de 800 profissionais das IES. Também modelamos cursos in company sobre temas gerais, relacionados ao Direito da Educação Superior, ou mais específicos.
Conheça nossas opções e participe de nossas eventos.
Comments