Vagas de emprego para ensino superior pagam 126% mais
- Ana Luiza Santos e Edgar Jacobs
- 13 de mar.
- 5 min de leitura
Os resultados de uma pesquisa conduzida pela Fundação Getúlio Vargas - IBRE demonstraram que, embora a diferença salário-hora dos trabalhadores com ensino superior tenha caído nos últimos 12 anos, possuir ensino superior continua sendo estratégico para elevar a renda pessoal.
Os empregados com ensino superior ganham mais do que o dobro do que os menos escolarizados, mais especificamente, no segundo trimestre de 2024, 126% mais do que pessoas com ensino médio ou superior incompleto.
O estudo é do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). O interessante é perceber que, entre 2012 e 2024, o número de trabalhadores com 16 anos ou mais de estudo - ensino superior completo - quase dobrou, ou seja, passou de 12 milhões para 22,4 milhões. Considerando a proporção da população ocupada (PO, pessoas que estão trabalhando, seja de forma formal ou informal), esse grupo saiu de 13,1% para 22%.
E, na verdade, olhando um pouco mais para trás, nota-se o crescimento explosivo do ensino superior no Brasil a partir do final dos anos 1990. Em 1980 eram 1,4 milhão de matrículas e, em 1998, 2,1 milhões. A partir de então, o crescimento se acelera, chegando-se a 9,4 milhões em 2022.
O forte aumento no número de egressos do ensino superior no Brasil foi seguido de uma redução do diferencial de salário entre os que têm ensino superior completo e os demais níveis de escolaridade.
Em 2012, empregados com ensino superior completo ganhavam 152% a mais em média do que aqueles com 12 a 15 anos de escolaridade. Em 2024, esse montante foi reduzido para 126%. A redução desta diferença, por óbvio, deu-se porque a mão de obra hoje é mais escolarizada, o que tende a afetar o retorno financeiro de quem finalizou o ensino superior. Nas palavras da pesquisadora Janaína Feijó, economista da FGV-IBRE, “esse fator de produção já não é tão escasso quanto era antes”.
De toda sorte, apesar da redução, a educação contínua é importante para que o trabalhador possa buscar rendas maiores no mercado de trabalho; afinal, de acordo com os estudos apresentados, mesmo que o indivíduo esteja na informalidade, ele recebe mais tendo concluído um curso superior.
O Censo da Educação Superior
O Censo da Educação Superior ocorre todos os anos no país e tem como referência o ano letivo anterior ao ano corrente em que acontece a coleta dos dados. A Portaria relativa ao Censo é publicada anualmente pelo Inep e o objetivo da coleta é oferecer informações estatísticas confiáveis que permitam conhecer e acompanhar o sistema brasileiro de educação superior e subsidiar o MEC com informações estatísticas para as atividades de acompanhamento e avaliação, programas de expansão e de melhoria da qualidade desse nível de ensino, entre outros.
O Censo de 2023 demonstrou que quase 10 milhões de alunos estão matriculados no ensino superior, o maior número já registrado nos últimos nove anos. Vivemos um cenário, de acordo com a análise da economista da Fundação Getúlio vargas, Janaína Feijó, em que se percebe um impacto da melhoria na composição educacional no Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Isto porque as análises dos determinantes do crescimento econômico incluem o capital humano, que vêm crescendo nas últimas décadas no país. De fato, quanto mais experiência e conhecimento o profissional tem – e o conhecimento acadêmico possui grande importância -, maior é o grau de produtividade do mercado de trabalho.
As conclusões são de que o diferencial salarial do ensino superior no Brasil realmente caiu nos últimos 12 anos, mas ainda se mostra claramente compensador, com vantagens adicionais diante da popularização da Inteligência Artificial generativa.
Inteligência Artificial generativa x ensino superior
A influência da Inteligência Artificial no mercado de trabalho não pode ser relegada a segundo plano. Fernando Veloso, coordenador do Observatório da Produtividade Regis Bonelli, destacou pesquisa do FMI de 2023 que analisa a exposição do mercado de trabalho à IA, analisando as aplicações como complementares ou substitutas dos postos de trabalho. Quando há complementaridade, por certo, o risco de deslocamento dos empregos é menor.
Os pesquisadores analisaram um grupo de países (Brasil, Colômbia, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos) e encontraram que, no caso de Brasil, Colômbia e África do Sul, quase 40% dos trabalhadores estão em ocupações de alta exposição à IA. Em relação aos Estados Unidos e Reino Unido, o percentual sobe para 60% da população ocupada.
No caso do Brasil, foi identificado que 80% dos trabalhadores com nível superior completo estão em ocupações com alta exposição à IA, mas que 50% dos trabalhadores com superior completo estão em postos em que a IA tem alta complementaridade. Para os que só têm o ensino médio completo, a exposição à Inteligência Artificial é menor, um pouco acima de 60%, mas apenas em 20% dos casos essa relação é complementar, o que induz a maior risco de perda do emprego.
A IA, portanto, pode ser benéfica na maioria dos casos para aqueles trabalhadores brasileiros que têm ensino superior completo, pois são os que se inclinam a estar em ocupações nas quais a inteligência artificial tem complementaridade e pode até produzir maior rendimento.
Os economistas do FGV-IBRE perceberam que a forte queda do prêmio salarial do ensino superior diante de todos os outros níveis de escolaridade é um fenômeno intrigante e que deve ser mais bem compreendido, até para efeito de elaboração e execução de políticas públicas na área de educação. Já mencionamos algumas hipóteses iniciais de causas do ocorrido, trazidas pela Carta Diferencial salarial do ensino superior cai no Brasil, mas nível ainda é elevado e recompensador, que continua:
“Por outro lado, o diferencial do ensino superior permanece muito elevado no Brasil, com potencial de jogar muito para cima a renda do recém formado. Assim, a ênfase na expansão do ensino superior, que já vem ocorrendo desde o final dos anos 90, deve ser mantida e quiçá reforçada.
Uma questão importante, porém, é a qualidade desse aumento de oferta, já que a queda do diferencial também indica que o casamento entre as melhores ocupações profissionais e a oferta de vagas no ensino superior tem potencial de ser mais bem trabalhado.”
Enfim, para o egresso da instituição de ensino superior o advento da inteligência artificial (IA) não é uma ameaça a seu posto profissional, mas uma vantagem adicional. É o que diz o estudo da FGV.
Em sua conclusão, embora os postos de trabalho desse grupo estejam mais expostos a essas novas tecnologias, a exposição tende, na maior parte dos casos, a ser complementar, ou seja, o posto de trabalho é mantido com potencial, como já mencionamos, de se tornar ainda mais produtivo.
Para maior conhecimento, acesse na íntegra a Carta Diferencial salarial do ensino superior cai no Brasil, mas nível ainda é elevado e recompensador.

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